quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sobre Michel Teló e seus críticos...

Que a arte tem valor é algo que ninguém contesta seriamente. Mas o que faz a arte ter
valor? Formalismo, hedonismo e instrumentalismo estético são algumas das principais
teorias candidatas a explicar o valor da arte. O formalismo defende que as obras de arte
têm valor intrínseco e que este é independente de quaisquer aspectos extra-artísticos. O
hedonismo defende que a arte tem valor porque é um meio para obter prazer. O
instrumentalismo estético defende que a arte é valiosa porque nos proporciona
experiências estéticas compensadoras. Por diferentes razões, nenhuma destas teorias
do valor responde satisfatoriamente ao problema. Uma alternativa mais credível é o
cognitivismo, de acordo com o qual a arte proporciona conhecimento, sendo esse
conhecimento que justifica o valor da arte qua arte. Por um outro
lado, que o cognitivismo estético não está comprometido com a ideia de que todas as
obras de arte têm valor cognitivo. Será que o valor cognitivo é universal? Abstração e objetivação são coisas captadas de forma pessoal.

Sabe-se que a música é um grande acontecimento social, o que resulta em algumas análises importantes sobre o impacto dela na vida das pessoas. São milhões que ouvem e discutem histórias e dão sua interpretação a partir do som. Os indivíduos buscam algo que não faz parte do seu cotidiano, mas que exerce forte influência no imaginário coletivo, ou algo que vivem ou viveram, para dar novo relevo a própria existência. O homem vive no imaginário. Cada um possui uma rede de pensamentos e
sensações que irão fazer parte do imaginário social. O imaginário pode ser considerado um reservatório e motor ao mesmo tempo, onde se guardam sentimentos, lembranças e experiências. O motor, neste ponto, seria uma força que impulsiona indivíduos ou grupos a uma busca da realidade. As pessoas agem porque são inseridas em correntes imaginárias.

É do conhecimento geral que o homem primitivo sempre buscou representações para se comunicar através de desenhos em cavernas, a fim de expressar um sentido. A música vem justamente representar essa carga de sentidos e sentimentos transportadas por imagens idealizadas e sons. O fascínio do som, juntamente com as imagens que criamos a partir dele, aparecem em momentos em que a sociedade estabelece regras de comportamentos, ou seja, tudo gira em torno da transmissão da irrealidade. É nesse ponto que se começa a observar a música como espetáculo e cimento social.

A cultura na sociedade pode ser considerada um reflexo teledramático, onde os
ouvintes buscam reproduzir situações inseridas no contexto da canção, aderindo a estilos, vocabulários e expressões pontuadas por elas. As narrativas nestas obras passam a ser fundamentais para a mediação cultural. A música vem estabelecer um funcionamento que atravessa os modos de produção e de consumo. Ou seja, a produção é realizada e o consumo é imediato. Não só bens materiais, como também, representações e estilos de vidas, sonhos e necessidades.

Lançando mão de JUNG, lembro do conceito de arquétipo, que não é dele, mas que é peça fucral da sua obra. Os seres humanos têm formas primárias e estruturais básicas que governam a psique. Essas estruturas e padrões psíquicos básicos, ele definiu como arquétipos. Ouvimos música, e a música em geral, nos toca, ativando os arquétipos em nós, produzindo reações instintivas e emoconais, que independem da razão. Ao escutarmos canções e músicas, estas podem provocar diferentes emoções em cada um de nós, sendo o arquétipo ativado. Podemos chorar, rir, entristecer-se, sentir saudades, alegrar-se, enternecer-se e comover-se ao som de uma música. Diversas emoções, que não poderiam ser todas aqui descritas ou nominadas. Independente de onde nos encontramos geograficamente, e do contexto histórico em que estamos inseridos, o ser humano é tocado pela música. Sendo este comportamento universal, podemos dizer que reagir psicologicamente à música é arquetípico.
Tenho analisado uma profunda repulsa a música de Michel Teló, denominada Aí se eu te pego. Os críticos de arte e os “pseudos” têm alardeado aos quatro ventos o quão ruim a música é, alicerçados no cognitivismo. A música de fato é muito ruim para mim. Mas para um jovem de quatorze anos, sem acesso a Caetano e Chico, morador de Coité do Nóia e que se sente atraído por uma menina que considera inacessível ela pode ter sim um valor simbólico. Baseado na libido, mas simbólico. O que as pessoas não percebem são as questões psicanalíticas que envolvem a música. Primeiro, a representação simbólica da mulher, linda e disponível. Depois, há o aparecimento do desejo que faz mediações com a realidade “ Ai, se eu te pego” e não “Vou te pegar”, ou seja, apesar de linda e disponível ela aparece como um objeto inacessível dentro do real. Quem aqui, homens e mulheres, não experimentou esse tipo de fantasia? A mensagem é rápida e atinge o inconsciente das massas pois é simples. O que está sendo questionado é a formação do inconsciente coletivo das pessoas que é permeado pela mídia e pelas necessidades que o sistema capitalista tem, além das questões que Freud abordou bem, e não o valor artístico da música. É essa a diferenciação que as pessoas precisam fazer. Com este dicernimento teórico fica mais fácil ver qual é o real problema. Esse requalque de mostrar o quão ruim uma determinada coisa é também nasce como forma de diferenciar-se como grupo social. Poderia tecer algumas considerações, mas precisaria de mais tempo e folha...

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