quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sobre Michel Teló e seus críticos...

Que a arte tem valor é algo que ninguém contesta seriamente. Mas o que faz a arte ter
valor? Formalismo, hedonismo e instrumentalismo estético são algumas das principais
teorias candidatas a explicar o valor da arte. O formalismo defende que as obras de arte
têm valor intrínseco e que este é independente de quaisquer aspectos extra-artísticos. O
hedonismo defende que a arte tem valor porque é um meio para obter prazer. O
instrumentalismo estético defende que a arte é valiosa porque nos proporciona
experiências estéticas compensadoras. Por diferentes razões, nenhuma destas teorias
do valor responde satisfatoriamente ao problema. Uma alternativa mais credível é o
cognitivismo, de acordo com o qual a arte proporciona conhecimento, sendo esse
conhecimento que justifica o valor da arte qua arte. Por um outro
lado, que o cognitivismo estético não está comprometido com a ideia de que todas as
obras de arte têm valor cognitivo. Será que o valor cognitivo é universal? Abstração e objetivação são coisas captadas de forma pessoal.

Sabe-se que a música é um grande acontecimento social, o que resulta em algumas análises importantes sobre o impacto dela na vida das pessoas. São milhões que ouvem e discutem histórias e dão sua interpretação a partir do som. Os indivíduos buscam algo que não faz parte do seu cotidiano, mas que exerce forte influência no imaginário coletivo, ou algo que vivem ou viveram, para dar novo relevo a própria existência. O homem vive no imaginário. Cada um possui uma rede de pensamentos e
sensações que irão fazer parte do imaginário social. O imaginário pode ser considerado um reservatório e motor ao mesmo tempo, onde se guardam sentimentos, lembranças e experiências. O motor, neste ponto, seria uma força que impulsiona indivíduos ou grupos a uma busca da realidade. As pessoas agem porque são inseridas em correntes imaginárias.

É do conhecimento geral que o homem primitivo sempre buscou representações para se comunicar através de desenhos em cavernas, a fim de expressar um sentido. A música vem justamente representar essa carga de sentidos e sentimentos transportadas por imagens idealizadas e sons. O fascínio do som, juntamente com as imagens que criamos a partir dele, aparecem em momentos em que a sociedade estabelece regras de comportamentos, ou seja, tudo gira em torno da transmissão da irrealidade. É nesse ponto que se começa a observar a música como espetáculo e cimento social.

A cultura na sociedade pode ser considerada um reflexo teledramático, onde os
ouvintes buscam reproduzir situações inseridas no contexto da canção, aderindo a estilos, vocabulários e expressões pontuadas por elas. As narrativas nestas obras passam a ser fundamentais para a mediação cultural. A música vem estabelecer um funcionamento que atravessa os modos de produção e de consumo. Ou seja, a produção é realizada e o consumo é imediato. Não só bens materiais, como também, representações e estilos de vidas, sonhos e necessidades.

Lançando mão de JUNG, lembro do conceito de arquétipo, que não é dele, mas que é peça fucral da sua obra. Os seres humanos têm formas primárias e estruturais básicas que governam a psique. Essas estruturas e padrões psíquicos básicos, ele definiu como arquétipos. Ouvimos música, e a música em geral, nos toca, ativando os arquétipos em nós, produzindo reações instintivas e emoconais, que independem da razão. Ao escutarmos canções e músicas, estas podem provocar diferentes emoções em cada um de nós, sendo o arquétipo ativado. Podemos chorar, rir, entristecer-se, sentir saudades, alegrar-se, enternecer-se e comover-se ao som de uma música. Diversas emoções, que não poderiam ser todas aqui descritas ou nominadas. Independente de onde nos encontramos geograficamente, e do contexto histórico em que estamos inseridos, o ser humano é tocado pela música. Sendo este comportamento universal, podemos dizer que reagir psicologicamente à música é arquetípico.
Tenho analisado uma profunda repulsa a música de Michel Teló, denominada Aí se eu te pego. Os críticos de arte e os “pseudos” têm alardeado aos quatro ventos o quão ruim a música é, alicerçados no cognitivismo. A música de fato é muito ruim para mim. Mas para um jovem de quatorze anos, sem acesso a Caetano e Chico, morador de Coité do Nóia e que se sente atraído por uma menina que considera inacessível ela pode ter sim um valor simbólico. Baseado na libido, mas simbólico. O que as pessoas não percebem são as questões psicanalíticas que envolvem a música. Primeiro, a representação simbólica da mulher, linda e disponível. Depois, há o aparecimento do desejo que faz mediações com a realidade “ Ai, se eu te pego” e não “Vou te pegar”, ou seja, apesar de linda e disponível ela aparece como um objeto inacessível dentro do real. Quem aqui, homens e mulheres, não experimentou esse tipo de fantasia? A mensagem é rápida e atinge o inconsciente das massas pois é simples. O que está sendo questionado é a formação do inconsciente coletivo das pessoas que é permeado pela mídia e pelas necessidades que o sistema capitalista tem, além das questões que Freud abordou bem, e não o valor artístico da música. É essa a diferenciação que as pessoas precisam fazer. Com este dicernimento teórico fica mais fácil ver qual é o real problema. Esse requalque de mostrar o quão ruim uma determinada coisa é também nasce como forma de diferenciar-se como grupo social. Poderia tecer algumas considerações, mas precisaria de mais tempo e folha...

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Samba do Resignado

De fato, confesso que respiro o teu amor
Não adianta tentar mentir, sofrer ou chorar
Pois as lágrimas fatalmente virariam rios
Ou quem sabe fariam um novo lindo mar
Negar seria como jogar fora a beleza, os lírios
E viver uma vida vazia cheia mágoa e dissabor

Admitir, porém, pode causar muita dor
Um medo, uma vontade e um doce lamentar
Todas as esperanças em você fazer depositar
Sem saber ao certo se encontrarão em ti calor
Sonhar conosco juntando as peças nos armários
Imaginar se teu sorrir é meu, de outro ou de vários

Cinismo e amor

A tristeza fez sua morada
Tornei-me um prisioneiro
Mesmo sem fazer nada...
Agora tudo um sofrimento traz
Se é dia, se é noite, tanto faz
Você partiu com um sorriso derradeiro

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Finda

Lamento, mas tudo termina
Nossos olhos se encarregaram de falar
Enquanto a boca calava e faltava o ar
Os passos já não eram os mesmos, pois tinham pressa
Em andar em direções opostas, minha menina
Eu queria dizer o contrário, mas a verdade é essa

Acontece

Que brote silêncio
E que ele seja meu, somente meu
Até que eu não mais suporte
E faça dele um grito teu

Fez-se

Numa noite cheia de contratempos
De forma efêmera fui tudo
Misturou-se em mim frio e cio
Tudo se fez ao mesmo tempo
Até consegui tirar meu escudo
Pura ilusão
Nem toda tristeza nasce de um não
No fim do dia, de novo vazio

sábado, 3 de abril de 2010

É isso

Atirou-se...
Revoando como uma ave
Foi ver o mundo
Sem nunca achar seu ninho

Atirou-se...
Fechou a porta e jogou a chave
Por aí fez vagar seu coração vagabundo
Envolto por pessoas, chorou sozinho

Atirou-se...
Preso em algo, talvez em um conclave
Que ao mesmo tempo é belo e imundo
Fez-se novamente pranto no caminho

Atirou-se?
Agora tanto faz
Atirou-se!
Agora jaz.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Revendo as cartas

Consome-me um desejo súbito e pungente
De revirar um já longínquo passado
Verificar um ímpeto, correto ou equivocado?
Dar nosso amor como morto e indigente

De soslaio olho tudo por mim traçado
O que encontro? Um vazio descrente
Afogado no medo de ser quem sou, temente
Refém de um óbito ao coração não notificado

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Transição

A máscara do mestre caiu
Sinceros sejamos:
De um conteúdo ideal para uma medíocre prática partiu

O pedestal nos consumiu
Passamos e nem enxergamos
Toda humanização se esvaiu

Da mente, os princípios já excluiu
Veja o ponto a que chegamos
O estudante odiava a postura que hoje assumiu

Quem queríamos ser? Sumiu!
Tão cedo resignamos
Medicina por amor pra puta que pariu.

Fernando indignado com situações vivenciadas!

Discutindo Relação

Ela é ama
E ama
Nos pensamentos trama
Chama! Na cama
Na cama chama
Clama
Reclama
Pergunta se ele a ama

Fernando brincando...

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

É dia de pizza

O Renan merece uma Portuguesa
Com acréscimo de carne com certeza
Daquele lote de boi superfaturado
Vendido pelo silêncio, pois se a Mônica fala ele fica lascado

O Collor terá uma marguerite
Povão adora quando ele grita
Engolindo e deglutindo como queira
O erário público, pois pra ele isso é besteira

O Lobão quer uma de Calabresa
Aquele cabelo ficou uma beleza
Toda confusão ele está metido e encrencado
Representante do típico cínico com atestado

E o Sarney se irrita
Quer nomear todos os sabores e pra isso agita
Vai comendo pizza pela beira
Ruindo as estruturas do senado sentado na sua cadeira.

Fernando Tenório e a crise do Senado ( Sarney e coleguinhas)

Vida Real

Dedo vai
Dedo vem
Sua próstata não anda bem
O paciente diz ai
Nada confirmado porém
Um exame completo verá o que ela retém
Dinheiro não cai
O exame também
Resultado é mero "detalhe" não importa quem
Se há doença ou cura? A verdade não sai
Assistindo a isso só uma certeza se tem:
A pior doença do mundo é ser um Zé Ninguém

*Pode parecer piada, mas é a vida real.

Desvios Aceitáveis

O que seria o homem
Sem suas pequenas obsessões?
Diárias, Únicas, Mutáveis
Trazendo o impossível a possibilidade
O que seria o homem
Sem suas muitas ilusões?
Algo ser cor, brilho e vontade
Aceitando do mundo todas as "verdades"

Fernando pensando que um hospital psiquiátrico é um mundo real com uma lente de aumento.

Maceió

M de marginalização social
A de analfabetismo coletivo
C de corrupção sistemática
E de enriquecimento ilegal
I de ilicitudes apaziguadas
O de onestidade, porque o h já levaram faz tempo.

Fernando Tenório lendo como os políticos da minha terra atuam

Emancipação feminina

Elas queimaram sutiãs
Um grito de liberdade
Revolução na sexualidade
Lembranças do tempo que eram símbolos do satã

Elas queimaram em fogueiras
Por “bruxaria” e pura maldade
Traídas e sacaneadas por toda sociedade
Silenciosamente sofreram com tantas asneiras

Hoje para algumas felicidade é camisinha na mão
Anticoncepcional à vontade
Ou um orgasmo de verdade
Desvirtuando o ponto fulcral da questão

Para outras o mundo diz não
E elas seguem contrapondo por mais igualdade
Cada dia mais perto de tal necessidade
Já que o pulsar da vida, mulher, nasce do teu coração.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Malandro Arrependido

Através do casos
Que tive
Tenho a certeza
Aquele velho amor sobrevive
Apesar dos acasos
Típicos de quem realmente vive
Sei que fora dos trilhos está a beleza
E também as incertezas das quais nunca se prive
Dizia isso, mas aquele amor pede novamente seu espaço
E tudo agora resume-se a firmeza de teu abraço
Todas as outras são lembranças
Fugazes como as de crianças
E meu infinito torna-se escasso
Obsessivo por seu cheiro e traço
Mesmo sabendo que matei tudo de bom, lambanças
Os meus sonhos são livres
E guardam uma angustiada esperança.

Permuta

Mais um passo, o precipício
Não vai lá, envolve muito risco
Escuto sempre essa faixa do disco
O abraço precede, servindo de indício

Escuto sempre: Mais um passo
O abraço não envolve muito risco
É a faixa do meu disco
Pula do precipício rumo ao espaço.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Ele e ela...

Ele pediu
Ela aceitou
Ele sorriu
Ela beijou
Ele mentiu
Ela casou
Ele traiu
Ela aceitou

Ele voltou
Ela pariu
Ele chorou
Ela dormiu
Ele pagou
Ela sentiu
Ele gritou
Ela fugiu

Fernando falando sobre casamento.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Luta por luto

Ah como dói...
Perder alguém
Mas dói mais ainda
Não sentir essa perda
Os pudores internos e externos
Invadem meu ego
E meu sentimento de culpa...
Esse é maior que minha dor
Esse é maior que eu
Sinto-me mal por não chorar
Por não gritar como os outros
Mesmo que eu saiba que são falsos
Como os risos e os elogios direcionados a mim
Vindos neste momento triste
Onde as caras ficam amarradas
As lágrimas descem
As memórias surgem...
No entanto, muitos sabem que nada fizeram
Pra demonstrar amor, afeto
E principalmente respeito
Tornando-se cúmplices
Não de uma falsa dor
Mas da minha culpa, mesmo que veladamente.




Fernando de luto previamente e sabendo que essa culpa irá o perseguir durante muitos anos de terapia.

sábado, 23 de maio de 2009

Obviamente estamos circunscritos ao que não é óbvio..

Do óbvio sempre fugimos
Ou fingimos não ver?
Fugimos, fingimos
O óbvio não tem nada a ver.


Fernando tratando de questões filosóficas obviamente.

Só o olhar

Deixo-me mudo
Mudo?
Mudo deixo.

Fernando sem inspiração

sábado, 2 de maio de 2009

Deriva

Deixo a terra firme
Busco o mar, o novo
Embora para os outros jamais afirme
Que o medo acompanha de novo

No meio dessa tal liberdade
Reconheço a infinitude
Finjo uma tola felicidade
Tão buscada em devaneios na juventude

Meus pés precisam de chão
Para a cabeça pensar, sonhar
Descobri isso no meio da imensidão
Ou seria solidão a atrapalhar?

Nesse processo de autoconhecimento
O infinito assusta, devora
Receio ser sugado por esse sentimento
Que horas alegra e outras apavora

Fernando pensando na mente humana e nas suas escolhas

Estranha sintonia
Com essa cidade fria
A ponto de deglutir
Ela e a ti

Ambos foram mal digeridos
Mas o frio cicatriza feridas e pedidos
Vindas do teu calor
Revelando uma utopia de amor

Ah, como feriu
Quando uma lágrima tua caiu
Mesmo sabendo que devia
Ter seguido a mais distante via

Portanto, desvio o olhar e coração
Sem mais traição
Para deixar a tristeza em outro plano
E aqui não sobra espaço para mais desenganos

Fernando cantando a despedida

Ônibus

Ao olhar vejo outra realidade
Uma multidão a proteger bolsas e carteiras
Em meio a freios, paradas e choques na traseira
Gritos, sussurros e conflitos de identidade
É a vida de verdade
Escorregando entre meus olhos, mesmo que eu não queira
Pois o mais fácil é ignorar essa situação passageira
Do que enxergar além da acalentadora mediocridade

Fernando retratando o cotidiano

domingo, 22 de março de 2009

Eu dou um jeito

Como mágica as palavras sumiram
De minha boca
Dos meus rabiscos
Da minha mente
E somente essa dor
Atinge e deixa a vida oca
Levando a vários riscos
Pungente
Provocando medo e terror
Mas eu invento uma engenhoca
Daquelas que toca discos
E que mesmo em hospícios enlouquece a gente
Pra sair desse estupor

Livrai de todos os males, amém!

Ah, vício...
Livrar-me quero
Repito
Reflito
Insisto
Consigo
Mesmo que por instantes
Repito
Reflito
Insisto
Consigo?
Ao menos tirei tua foto da estante

Não era pra ser assim

Eu não consigo entender
Como esquizofrênicos ouço vozes
Vejo teu vulto e sinto teu cheiro
Eu não consigo entender
Essa raiva típica dos algozes
Misturada a lembranças nostálgicas de outro janeiro
Eu não consigo entender
Como corações tão velozes
Bateram mais que um compasso corriqueiro
Eu não consigo entender, juro que não consigo
Como num mundo tão vasto só em tu encontro abrigo

quarta-feira, 18 de março de 2009

Abandonar o barco?!

Reconstruir e seguir...
Essa deve ser a batida
Sem ritmo e mal conduzida
Arrítmica e com pouco fluir
Parte de mim é alívio
E outra pranto
Carícias como acalanto
Devem surgir e ludibriar
Enganar a quem?
Se diante de tantos poréns
Não mais me vejo ou reconheço
Sei que envelheço e não mais mereço
Tudo de bom que podia ser oferecido
E sou reconduzido a ficar contido
E as arritmias tornam-se mais severas
Provocando diversas seqüelas
Mas sei que devo seguir...ou seria partir?

sexta-feira, 6 de março de 2009

Deixe-me ir

Encruzilhadas a parte
Sei que nosso amor merece um aparte
Não sei se pra sempre ou por algum tempo
Servirá para nós e pra ele próprio
Pois seria impróprio
Deixá-lo padecer
Meu coração é um barco
Daqueles que fica à deriva
E mesmo sem saber o rumo
Presumo, que será embalado por ondas de despedida.

Fernando Tenório ouvindo Cartola

Embriagado amor

Insatisfação crônica
Repaginada sob a forma de cotidiano
E ainda são proferidos falsos eu te amo
Sendo que o medo é o pai de um ledo engano
Uma angústia velada, rechaçada
Que só a velha cachaça libera
De forma onde o sofrimento é vomitado
Pra ser cicatrizado, mas o coração não coopera
Sem dúvidas, um grito que sobe sem escadas
Ecoa sempre e nunca é ouvido
Mas é sentido
Ou suprimido e sai tombando entre as calçadas

Fernando Tenório lembrando da aula

Acerto de contas

Eu bato a porta
Viro
Fico de costas
Tiro
Reviro
Das coisas? Nada mais importa
Confiro
O que foi atingido antes de fechar as contas


Fernando Tenório sem inspiração e sem tempo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O meu mundo imundo

O perfume é francês
Para um jantar em restaurante japonês
Pago com dólar americano

O ouro é inglês
Mas já foi português
Roubado do Brasil

A moda é falar chinês
Um novo estilo de vida burguês
De estuprados a estupradores

Africano continua fudido e pobre continua latino
Que continua latindo pra virar burguês
Do defasado e quebrado estilo de vida americano

Americano continua cretino
Atacando e levando sapatadas na bolsa mês a mês
O coquetel está na mão, mas não...AIDS tem que matar africano

Brasileiro continua sem saber cantar o hino
E o mundo virou nosso freguês
Sabe o que eu acho? Cuidado que lá vem cano.

Fernando Tenório

Aquele amor

Eu já fui anacoluto daqueles que grita:
Ela está bem, eu fico puto!
Talvez não seja mais anacoluto e sim inveja
Daquelas que depreda, dejeta e degrada.
Eu já fui hipérbole daquelas que nunca se cala
E fala, declara e arromba senzalas...
Para me fingir de escravo ou ser verdadeiramente um cativo
Ativo e hoje antigo.
Eu fico puto, mas ela está bem.
Virou algo muito plural, cheio de sentidos, um verdadeiro bacanal de figuras de linguagem...
E aí vira amargura, ela tão madura e eu aqui com tantos “poréns”
É, francamente, eu ando puto e a minha mente mente...

Fernando Tenório no lado experimental do hexágono de Espinosa

Sanatório

E os extremos se estremecem
Um momento de equilíbrio tecem
Não sei se por sorte
Tênue e fugaz
E os extremos se aquecem
Corpos e vidas padecem
Dessa luta, desse choque, dessa morte
Do futuro, do agora e do atrás.

Fernando Tenório pensando na psiquiatria e seus objetos de estudos...

O meu talento: O tormento

Eu gosto de desafiar a arte
Ou seria aborrecer?
Sobretudo quando me dou conta da parte
Que me cabe ou do que posso ser
Devido a essa herança mal repartida
Sempre fico, da arte, com a obrigação de cantar a dor da despedida.




Fernando.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O enlance

Hoje tem bolo, champanhe e glacê
Promessas cumpridas
Embriagadas despedidas
E a sóbria noiva ensaiando jogar o buquê

Hoje tem bolo, champanhe e glacê
As famílias convocadas
Murmúrios cortantes, comentários ardis, vidas dilaceradas
Os ex amores na deprê

Hoje tem glacê, champanhe e bolo
Eternos cúmplices do mesmo pecado
Agora abençoado, depois acomodado
Dançando a valsa, imaginando castelos, tijolo a tijolo

Hoje tem glacê, champanhe e bolo
Perante o padre, os beijos calientes
Fotografados milimetricamente são mais prudentes
Carícias carentes sem dolo

Hoje tem bolo, glacê, champanhe
Objetivos concretizados, outros nem tanto
Sorrisos irradiantes varrendo todos os males para o canto
Sonho que ele jamais sonhe

Hoje tem bolo, glacê, champanhe
Felizes pra sempre, na saúde e na doença
Na alegria e tristeza, ser fiel para que nenhum mal os vença
Vão em paz e que Deus os acompanhe

Fernando Tenório retratando um festa, mais um cotidiano...

Faixa não ouvida

Gaza não engasgue
Com balas, mortes e gaze
Gaza não engasgue
A guerra não é santa e eles não sabem o que fazem
Gaza não engasgue
Ao beber esse santo sangue derramado
Gaza não engasgue
Vendo crianças sem pais, paz e esse mundo desalmado
Ora, Gaza não engasgue
Teus territórios hão de ser desocupados
Ora, Gaza não engasgue
Mísseis israelenses, programados, são silenciosos
Ora, Gaza não engasgue
Ao ver ociosos soldados molestar tuas filhas
Ora, Gaza não engasgue
Teus gritos tão amordaçados têm que sair logo dessa trilha
Chora Gaza, chora, antes que alguma bomba a ti cale
Fala Gaza, fala, antes que alguém por ti fale.


Fernando Tenório vendo noticiário de Tv

domingo, 4 de janeiro de 2009

SMS pra vc

Revoga o tão gritado arrependimento
Transformando o tal em algo concreto e irrevogável
Se não fizeres, de fato, serei obrigado a fazer
Sinta-se livre...Sem mais

Fernando Tenório

sábado, 3 de janeiro de 2009

Maligno

Chega esporadicamente
Sem delimitação
Mitoses sucessivas, meticulosamente
Não há interrupção

Navalha que fere
Corpo, mente e alma atingidos
Inutiliza tecidos
Crescimento anômalo defere

Um mal bem nutrido, demente
Que não tem medo da morte, nasce pra imortalização
Dor de forma pungente da mente
Fruto do sucessivo e árduo processo de internalização


Embriagada angústia...não há quem libere
Orações, preces, promessas...pedidos
Fármacos, massacreterapia...fundidos
Na esperança que Ele coopere

Fernando Tenório estudando Patologia

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Carteira de identidade

Válida em todo território nacional
Apresso-me a decorar o número do registro geral
Detalhes sórdidos da fabricação, incógnita sobre a validade
Adentra na data de expedição e a naturalidade

Pai e mãe simplificados a uma filiação
Pois filho sou dessa rota nação
Polegar direito impregnado
Ferrão, escravo, mutilado, multinacionalizado, privatizado

Já não basta ser dona da verdade
República Federativa não viole minha cidade

Já não basta ser dona das informações
República Federativa não burocratiza os meus sertões

Já não basta vender nossa propriedade
República Federativa não terás minha verdadeira identidade

Já não basta ter mutilado milhões
República Federativa não carimba esses pobres corações

Fernando Tenório filosofando ao olhar sua carteira de identidade...Brincando de ser Alberto de Oliveira

Passos delimitados

Vem menina, não pare de requebrar
Paraliso ao ver a ti
Você tão segura de si
E eu aqui dentro a me procurar

Vem menina, não há com o que se preocupar
Você encanta, eu canto
Eu medo, você acalanto
Ainda é cedo não vai clarear.

Fernando Tenório sem inspiração

Fotografias

Vejo nas fotografias
A pátina de meu rosto
Brincadeira de mau gosto
Essa de passar do tempo

Passeio na foto...

Vejo nas fotografias
O envelhecer, o morrer
Prefiro até esquecer
Essa de passar do tempo

Passeio na foto
Comparo as grafias...

Vejo nas fotografias
O que reflete o meu hoje, o dia-dia
Transformação do medo em agonia
Essa de passar do tempo

Passeio na foto
Comparo as grafias
Eternas noites frias...

Vejo nas fotografias
Lembro dos amigos de outrora, idealizo o eterno
Encontro o efêmero, os colegas, momentos sem terno
Essa de passar do tempo

Passeio na foto
Comparo as grafias
Eternas noites frias
Delas sobrou-me você, meu cotidiano terremoto.


Fernando Tenório relendo algo e vendo fotos

Ode à angústia

O cobertor é curto
E a vida plena também
Sem o grito, cinismo, lirismo
Nada sou...Talvez um armazém

Cheio de mágoas, fantasmas
E nunca vendo além
Com medo, reprimido, deprimido
Nada sou...Talvez um armazém

Sem chão, sem teto, meu show encurto
Fico mudo, a platéia também
Repetir o pedido, realismo, romantismo
Nada sou...Talvez um armazém

Morte anunciada, marcas e dramas
Agora avisto o além
Engolir o choro, zumbido, comprimido
Nada sou...Talvez um armazém

Armazém sem teto,sem chão...mágoas, fantasmas
Abarrotado...De medo, choro e dramas
Ilhado...Inatingível prisão
E você, ceifadora de almas, é a libertação.


Fernando Tenório com o eu lírico triste no segundo dia de 2009...Somente ele

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Porta-Retrato

Teu olhar exterioriza
Invade e finda
Cópia de Monalisa
Chega a deslocar minha retina

Teu sorriso é um porta-estandarte
Traz a alma, a calma, o ainda
Verdadeira obra de arte
Avistar a efígie da egrégia menina

Tua boca hipnotiza
Lábios simbólicos e invasivos, paisagem linda
Palavras saem, tornam-se brisa
Para encontrar-me a cada esquina

Tua vida é capítulo da minha, grande parte
És meu carnaval, Olinda
Vasta felicidade sem aparte
Pois na dança do meu coração, você é a bailarina


Fernando Tenório novamente apaixonado pela mesma flor do imenso jardim no primeiro dia de 2009.

Começo de ano-(de)novo!(?)

Um peixe sempre fora d'água
Mesmo estando próximo ao mar

Todo mundo e quase ninguém
Nada do mundo, todo um alguém
Um encontro inusitadamente planejado
Um olhar planejadamente inusitado

Sem hora, sem assunto
Senhora, eu lhe pergunto:

O que eles esperam alcançar?
O que eles cansam de esperar?

Foi apenas mais um começo
De um fim que não chegou (De algo que nada mudou?)
No fim das contas, reconheço
Não foi apenas o mundo que girou




By João Gustavo. EnJo(hnn)y! ;D

domingo, 28 de dezembro de 2008

Espelho quebrado

Anticoncepção mal tomada
Caio na estrada
Ou seria Fernando?
Sempre armando, amando

Um filho de muitos pais
Que como sempre não tem nenhum
Brindo o motivo, o atrás
Vinho sem motivo algum

Fernando Tenório lendo Benjamin e com arroubos de artista

Simples assim

Ceifa a flor
Ela tem espinho
Um cheiro, carinho
Mas deixa dor

Fernando Tenório em uma tarde sem a menor inspiração e muita inquietação

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ócio produtivo

Quem escreve seus males espanta ou ao menos os reconhece. É um processo de exposição dos sentimentos e angústias de forma crua, ou seja, uma exposição do verdadeiro eu.
Claro que muitos mascaram o que escrevem e preferem falar de vários temos, exceto eles mesmos. Expor o seu verdadeiro Ego (com partes do Id?) é um risco, pois há repressão das pessoas.
Ao escrever reconhecemos partes de nós que nem mesmo nós sabíamos existir. As fraquezas são mais evidentes e os medos ganham nome, cara e cor.
Comparo sempre o ato de escrever a uma terapia, onde o papel de terapeuta fica circunscrito e dividido entre meus leitores e eu (acreditem). Então, meus amigos, sejam meus terapeutas que ando precisando...

Fernando Tenório reflexivo no verão de 2008

Atracadouro

A grilheta que nos prendia soltou
E o pior é continuar preso
Esperanças possuo de ter um prazer não fogo-fátuo
Marulho grita teu nome até ecoou

Quando partiu, rastro doído aqui
Imprecar virou o meu esporte preferido
Virou obsessão laicizar meu coração ferido
Esse desobediente revelou: não esqueceu a ti

Não leva contigo a dor de provocar hecatombes
Mas leva contigo a sensação de quase-amor
E se algo a fizer voltar atrás, nem tombe
Cai pra meu lado, que eu seguro a flor.

Faça turismo, vista com jonatismo ou leia um livro
Tanto faz... Se quiseres sempre encontrarás calor
Um fogo efêmero... Sofismo
Que porto seguro... Só eu, amor.


Fernando Tenório numa fria manhã de dezembro.

Como cartola dizia...

Equilibra-se nessa pequena corda
Pois o resto é o vazio
Não te faz de cego, nem esnoba
O mundo, meu caro, é um moinho

No silêncio mentiroso
Não poderás ficar
No fundo todos sabem
Que palavras só se propagam no ar

Não espere cair nesse fosso
Antes disso, se joga
Aproveitará a paisagem com mais gosto

A vida é um precipício
Um apaixonante precipício insolente
Ou a gente se joga ou alguém joga a gente.

Fernando Tenório numa madrugade de dezembro de 2008

Samba de lá que danço de cá.

Samba menina
Samba no ritmo descompassado do meu coração
Samba sem rima
Samba ao som da tua imaginação

Dança menina
Dança com rima
Dança imaginação, descompassa
Dança até meu coração


Fernando Tenório em uma madrugada qualquer ouvindo sambas

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O amor virou fast food

Talvez o amor seja a única droga aceita socialmente, e olhe que seu uso tem saído de moda. Digo isso com propriedade, pois já provei das mais variadas facetas de tal sentimento “nobre”. Desde o mais profundo prazer mundano ao famoso bilhete azul (leia-se pé na bunda), o qual me levou a cantarolar Waldick e Reginaldo.
Propagam aos quatro ventos que falar de amor virou algo piegas e retrô, ou seja, nosso único psicotrópico vem sendo dizimado do meio social. Apesar de discordar quanto a relegar esse sentimento a um plano secundário, sinto em concordar que a efemeridade das coisas e das informações o atingiu em cheio. A palavra amor está sendo utilizada de forma simplista; qualquer coisa hoje é amor, ou seria que o amor virou qualquer coisa?
Dizem que o verdadeiro amor só é sentido pelas mães, outra vertente afirma que só o corno sente tal sentimento em toda sua amplitude (daí surgem às seguintes indagações: sofrer precede o amar ou o amar precede o sofrer?) e outros mais pessimistas dizem que o amor não existe, sendo a influência do mito de amor eterno e sem sofrimento algo notado. A virtude, meu caro, é o meio termo; nem pra sempre, nem pra agora.
O argumento do mal amado é que amor está fora de moda, é instituição falida, conversa de botas batidas. Ir pra balada e beijar cem (pessoas)/sem(envolvimento) virou estilo de vida, muito caro por sinal. Os beijos são embalados pela banda da moda e o Armani eu você veste é mais importante do que quem você é. O seguinte diálogo resume bem isso:
-Peguei um cara ontem na balada, ele era um gato, estava com a blusa da Armani, perfume Mont Blanc e relógio Bulôva.
-E qual o nome dele?
-Ah, sei lá.
Há ainda o mal amado recluso, aquele que joga pedra nos amantes e os julga de tolos. Isso nada mais é do que medo de entrar na terra sem chão e razão. É uma questão de tempo até eles mudarem de lado, aí eles encontrarão o deserto ou a Sibéria provocada pelo amor e ao mesmo tempo irão achar a primavera em fevereiro, maio ou no mês que eles quiserem, sendo um carnaval sem fim. Dessa forma, o beijo, o cheiro e as carícias vão achar um lugar certo e não se propagarão ou no máximo mudarão de figura com a chegada dos herdeiros da embriaguez dessa droga.
É meu amigo, até as músicas de amor andam mais simplistas... Será isto reflexo da posição efêmera que esse sentimento assumiu na nova conformação social? Não sei dizer, quando souber volto aqui pra contar.
O amor virtual surgiu, levando a questão carnal e a presença para um canto escuro chamado esquecimento. Os beijos calientes são retrô, já que não possuem aquele barulhinho do MSN ao fundo. Até o sexo ficou diferente com gritos e posições previamente ditadas pela indústria da pornografia depois de uma lida mal dada no Kama Sutra.
Eu resolvi escrever depois do sugestivo título do filme que não vi: Queime depois de ler. Sabe por quê? Acho que não vale à pena ler pensamentos desorganizados de uma mente mais desorganizada ainda, mas como amor é terra sem lei, é um bang-bang e as minhas palavras são tiros disparados a esmo, sei que essas balas sempre acabam achando alguém. E aos que elas não acharem? Queimem depois de ler.



Fernando Tenório no natal de 2008.

À Tu

No começo parecia fim
Efemeridade certa
Triste enfim...
Mas quem falou em fim?

Do que parecia fim
Trancreve-se sim
Tudo é uma questão sonora
Basta querer ouvir!

Foi o primeiro fim
Pai do eterno começo
Capaz de transformar
Fragilidade em solidez.

Três...gosto muito desse número
aos dias?ele depende do referencial(longe ou perto)
aos meses?ele fez ela dizer te amo
aos anos?ele diz que é hoje.

(Fernando Tenório em 2007)

Iniciando...

Violões desafinados
O impossível vai rondar
Trajes desalinhados
Pra que tocar?

Iniciativa é chave
Intrínseco exposto
Cuidado! Olho roxo
Repressão é entrave?

Bombas explodem
Sonhos morrem
O medo faz parar?

Mudo grito
Idéias perdidas
Tenho dito.

( Fernando Tenório no outono de 2006)