domingo, 28 de dezembro de 2008

Espelho quebrado

Anticoncepção mal tomada
Caio na estrada
Ou seria Fernando?
Sempre armando, amando

Um filho de muitos pais
Que como sempre não tem nenhum
Brindo o motivo, o atrás
Vinho sem motivo algum

Fernando Tenório lendo Benjamin e com arroubos de artista

Simples assim

Ceifa a flor
Ela tem espinho
Um cheiro, carinho
Mas deixa dor

Fernando Tenório em uma tarde sem a menor inspiração e muita inquietação

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ócio produtivo

Quem escreve seus males espanta ou ao menos os reconhece. É um processo de exposição dos sentimentos e angústias de forma crua, ou seja, uma exposição do verdadeiro eu.
Claro que muitos mascaram o que escrevem e preferem falar de vários temos, exceto eles mesmos. Expor o seu verdadeiro Ego (com partes do Id?) é um risco, pois há repressão das pessoas.
Ao escrever reconhecemos partes de nós que nem mesmo nós sabíamos existir. As fraquezas são mais evidentes e os medos ganham nome, cara e cor.
Comparo sempre o ato de escrever a uma terapia, onde o papel de terapeuta fica circunscrito e dividido entre meus leitores e eu (acreditem). Então, meus amigos, sejam meus terapeutas que ando precisando...

Fernando Tenório reflexivo no verão de 2008

Atracadouro

A grilheta que nos prendia soltou
E o pior é continuar preso
Esperanças possuo de ter um prazer não fogo-fátuo
Marulho grita teu nome até ecoou

Quando partiu, rastro doído aqui
Imprecar virou o meu esporte preferido
Virou obsessão laicizar meu coração ferido
Esse desobediente revelou: não esqueceu a ti

Não leva contigo a dor de provocar hecatombes
Mas leva contigo a sensação de quase-amor
E se algo a fizer voltar atrás, nem tombe
Cai pra meu lado, que eu seguro a flor.

Faça turismo, vista com jonatismo ou leia um livro
Tanto faz... Se quiseres sempre encontrarás calor
Um fogo efêmero... Sofismo
Que porto seguro... Só eu, amor.


Fernando Tenório numa fria manhã de dezembro.

Como cartola dizia...

Equilibra-se nessa pequena corda
Pois o resto é o vazio
Não te faz de cego, nem esnoba
O mundo, meu caro, é um moinho

No silêncio mentiroso
Não poderás ficar
No fundo todos sabem
Que palavras só se propagam no ar

Não espere cair nesse fosso
Antes disso, se joga
Aproveitará a paisagem com mais gosto

A vida é um precipício
Um apaixonante precipício insolente
Ou a gente se joga ou alguém joga a gente.

Fernando Tenório numa madrugade de dezembro de 2008

Samba de lá que danço de cá.

Samba menina
Samba no ritmo descompassado do meu coração
Samba sem rima
Samba ao som da tua imaginação

Dança menina
Dança com rima
Dança imaginação, descompassa
Dança até meu coração


Fernando Tenório em uma madrugada qualquer ouvindo sambas

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O amor virou fast food

Talvez o amor seja a única droga aceita socialmente, e olhe que seu uso tem saído de moda. Digo isso com propriedade, pois já provei das mais variadas facetas de tal sentimento “nobre”. Desde o mais profundo prazer mundano ao famoso bilhete azul (leia-se pé na bunda), o qual me levou a cantarolar Waldick e Reginaldo.
Propagam aos quatro ventos que falar de amor virou algo piegas e retrô, ou seja, nosso único psicotrópico vem sendo dizimado do meio social. Apesar de discordar quanto a relegar esse sentimento a um plano secundário, sinto em concordar que a efemeridade das coisas e das informações o atingiu em cheio. A palavra amor está sendo utilizada de forma simplista; qualquer coisa hoje é amor, ou seria que o amor virou qualquer coisa?
Dizem que o verdadeiro amor só é sentido pelas mães, outra vertente afirma que só o corno sente tal sentimento em toda sua amplitude (daí surgem às seguintes indagações: sofrer precede o amar ou o amar precede o sofrer?) e outros mais pessimistas dizem que o amor não existe, sendo a influência do mito de amor eterno e sem sofrimento algo notado. A virtude, meu caro, é o meio termo; nem pra sempre, nem pra agora.
O argumento do mal amado é que amor está fora de moda, é instituição falida, conversa de botas batidas. Ir pra balada e beijar cem (pessoas)/sem(envolvimento) virou estilo de vida, muito caro por sinal. Os beijos são embalados pela banda da moda e o Armani eu você veste é mais importante do que quem você é. O seguinte diálogo resume bem isso:
-Peguei um cara ontem na balada, ele era um gato, estava com a blusa da Armani, perfume Mont Blanc e relógio Bulôva.
-E qual o nome dele?
-Ah, sei lá.
Há ainda o mal amado recluso, aquele que joga pedra nos amantes e os julga de tolos. Isso nada mais é do que medo de entrar na terra sem chão e razão. É uma questão de tempo até eles mudarem de lado, aí eles encontrarão o deserto ou a Sibéria provocada pelo amor e ao mesmo tempo irão achar a primavera em fevereiro, maio ou no mês que eles quiserem, sendo um carnaval sem fim. Dessa forma, o beijo, o cheiro e as carícias vão achar um lugar certo e não se propagarão ou no máximo mudarão de figura com a chegada dos herdeiros da embriaguez dessa droga.
É meu amigo, até as músicas de amor andam mais simplistas... Será isto reflexo da posição efêmera que esse sentimento assumiu na nova conformação social? Não sei dizer, quando souber volto aqui pra contar.
O amor virtual surgiu, levando a questão carnal e a presença para um canto escuro chamado esquecimento. Os beijos calientes são retrô, já que não possuem aquele barulhinho do MSN ao fundo. Até o sexo ficou diferente com gritos e posições previamente ditadas pela indústria da pornografia depois de uma lida mal dada no Kama Sutra.
Eu resolvi escrever depois do sugestivo título do filme que não vi: Queime depois de ler. Sabe por quê? Acho que não vale à pena ler pensamentos desorganizados de uma mente mais desorganizada ainda, mas como amor é terra sem lei, é um bang-bang e as minhas palavras são tiros disparados a esmo, sei que essas balas sempre acabam achando alguém. E aos que elas não acharem? Queimem depois de ler.



Fernando Tenório no natal de 2008.

À Tu

No começo parecia fim
Efemeridade certa
Triste enfim...
Mas quem falou em fim?

Do que parecia fim
Trancreve-se sim
Tudo é uma questão sonora
Basta querer ouvir!

Foi o primeiro fim
Pai do eterno começo
Capaz de transformar
Fragilidade em solidez.

Três...gosto muito desse número
aos dias?ele depende do referencial(longe ou perto)
aos meses?ele fez ela dizer te amo
aos anos?ele diz que é hoje.

(Fernando Tenório em 2007)

Iniciando...

Violões desafinados
O impossível vai rondar
Trajes desalinhados
Pra que tocar?

Iniciativa é chave
Intrínseco exposto
Cuidado! Olho roxo
Repressão é entrave?

Bombas explodem
Sonhos morrem
O medo faz parar?

Mudo grito
Idéias perdidas
Tenho dito.

( Fernando Tenório no outono de 2006)