quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O amor virou fast food

Talvez o amor seja a única droga aceita socialmente, e olhe que seu uso tem saído de moda. Digo isso com propriedade, pois já provei das mais variadas facetas de tal sentimento “nobre”. Desde o mais profundo prazer mundano ao famoso bilhete azul (leia-se pé na bunda), o qual me levou a cantarolar Waldick e Reginaldo.
Propagam aos quatro ventos que falar de amor virou algo piegas e retrô, ou seja, nosso único psicotrópico vem sendo dizimado do meio social. Apesar de discordar quanto a relegar esse sentimento a um plano secundário, sinto em concordar que a efemeridade das coisas e das informações o atingiu em cheio. A palavra amor está sendo utilizada de forma simplista; qualquer coisa hoje é amor, ou seria que o amor virou qualquer coisa?
Dizem que o verdadeiro amor só é sentido pelas mães, outra vertente afirma que só o corno sente tal sentimento em toda sua amplitude (daí surgem às seguintes indagações: sofrer precede o amar ou o amar precede o sofrer?) e outros mais pessimistas dizem que o amor não existe, sendo a influência do mito de amor eterno e sem sofrimento algo notado. A virtude, meu caro, é o meio termo; nem pra sempre, nem pra agora.
O argumento do mal amado é que amor está fora de moda, é instituição falida, conversa de botas batidas. Ir pra balada e beijar cem (pessoas)/sem(envolvimento) virou estilo de vida, muito caro por sinal. Os beijos são embalados pela banda da moda e o Armani eu você veste é mais importante do que quem você é. O seguinte diálogo resume bem isso:
-Peguei um cara ontem na balada, ele era um gato, estava com a blusa da Armani, perfume Mont Blanc e relógio Bulôva.
-E qual o nome dele?
-Ah, sei lá.
Há ainda o mal amado recluso, aquele que joga pedra nos amantes e os julga de tolos. Isso nada mais é do que medo de entrar na terra sem chão e razão. É uma questão de tempo até eles mudarem de lado, aí eles encontrarão o deserto ou a Sibéria provocada pelo amor e ao mesmo tempo irão achar a primavera em fevereiro, maio ou no mês que eles quiserem, sendo um carnaval sem fim. Dessa forma, o beijo, o cheiro e as carícias vão achar um lugar certo e não se propagarão ou no máximo mudarão de figura com a chegada dos herdeiros da embriaguez dessa droga.
É meu amigo, até as músicas de amor andam mais simplistas... Será isto reflexo da posição efêmera que esse sentimento assumiu na nova conformação social? Não sei dizer, quando souber volto aqui pra contar.
O amor virtual surgiu, levando a questão carnal e a presença para um canto escuro chamado esquecimento. Os beijos calientes são retrô, já que não possuem aquele barulhinho do MSN ao fundo. Até o sexo ficou diferente com gritos e posições previamente ditadas pela indústria da pornografia depois de uma lida mal dada no Kama Sutra.
Eu resolvi escrever depois do sugestivo título do filme que não vi: Queime depois de ler. Sabe por quê? Acho que não vale à pena ler pensamentos desorganizados de uma mente mais desorganizada ainda, mas como amor é terra sem lei, é um bang-bang e as minhas palavras são tiros disparados a esmo, sei que essas balas sempre acabam achando alguém. E aos que elas não acharem? Queimem depois de ler.



Fernando Tenório no natal de 2008.

3 comentários:

  1. O filme citado, recomendo. O psicotrópico tbm. Quanto ao texto, fluido...Nath gosta.

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  2. Nath, dos que leram até agora você foi a única atingida...mesmo que tenha sido de raspão!
    =D

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  3. Muito bom!! Eu gostei, vc escreve muito bem siim!! =D

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